terça-feira, 31 de março de 2009

Adão, Eva e Darwin ou os macacos e o pecado

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DESDE QUE A SANTA MADRE IGREJA aceitou a teoria da evolução das espécies que eu fiquei preocupado.Pio XII reconheceu-a como devia, mas nós sabemos que a Santa Madre Igreja deixa humildemente passar alguns séculos até reconhecer os seus erros.Se agora Darwin e Galileu têm razão,é possível que dentro de 200 ou 300 anos os defensores do casamento entre seres do mesmo sexo também sejam reconhecidos pela Santa Madre Igreja como tendo razão.Nunca se sabe.
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Já antes do reconhecimento tardio do Vaticano que se suspeitava, com fundamento, descendermos dos símios.A verdade é que basta ir ao Jardim Zoológico ou a um circo e observarmos os chimpanzés com alguma atenção para facilmente acreditarmos que o homo sapiens é um primata evoluído porque, ao que nos contam, os nossos antepassados Adão e Eva eram muito piores do que os macacos, além de constituírem um casal de irresponsáveis. Basta termos por bom aquilo que nos ensinaram na catequese.
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Nessa versão,Adão, Eva, Caim e Abel ultrapassaram tudo o que seria permitido, está bom de ver, porque para a nossa espécie vingar teriam, no mínimo, cometido aquilo que ainda hoje é considerado incesto,capaz de levar crianças a oscilarem entre pais biológicos e famílias de acolhimento, o que hoje constitui uma dor de cabeça para juízes e outros magistrados e que naqueles tempos não dava sequer que pensar entre a divertida comunidade.
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Os tempos não deram a Darwin oportunidade para que ele proferisse uma frase daquelas que chegam até aos nossos dias.Ele poderia ter dito “não há dúvida que descendemos do macaco, mas há macacos e macacos, há uns que são muito mais macacos do que outros e, por isso, nem todos os macacos são iguais”. Nós, hoje, sabemos que é assim, mas dito por Darwin teria sido muito mais fácil de aceitar.
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-De que se disfarçou o Diabo para tentar Eva?- perguntava-nos o padre Queirós.
E nós :
-De serpente.
E ele:
-Porque expulsou Deus Adão e Eva do Paraíso?
E nós:
-Por morder uma maçã da árvore do bem e do mal.
E o padre:
-Que consequência teve essa tentação?
-E nós:
-O pecado original.
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Ensinaram-me que este disparate é verdadeiro e não tive mais remédio senão acreditar. Mas apesar de me estar nas tintas para esta e outras historietas, ainda me irrita a conversa dos macacos e fico com pena de que desmintam assim o padre Queirós, porque não consigo descobrir nada de erótico em dois símios a roerem uma maçã. Atirem-lhes uma para dentro da “Aldeia do Faustino”, em Palhavã, observem, e depois venham contar-me se tenho ou não razão.

«Mais Alentejo» de Jan 08

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