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NUNCA PENSEI que esta mesma revista alentejana onde escrevo seria tão piegas que nela tivesse de ler choradeiras de Alentejanos que dão conta do mau passadiço uns dos outros, como se tal contituisse motivo para os alentejanos se vangloriarem.
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Por graça, sempre encarei esta publicação como daquelas que ao relatar mortes e ferimentos graves entre os passageiros dum comboio noticiasse, ufana, que os ferimentos e mortes se “tivessem registado, somente, entre os passageiros da terceira classe.” Ou então, que ao citar a morte duma vítima dum prédio que tivesse ruído na Lapa, em Lisboa, desse festivamente conta da ocorrência, acrescentando que, “Graças a Deus, a única vítima era a porteira do malogrado edifício”.
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Revista assim deveria dar conta dos montes e das herdades, das caçadas e do progresso dos negócios dos seus melhores leitores ou mais ilustres accionistas, e para onde estes fogem para fazerem as suas invejáveis férias. Uma revista destas não deve contar como se passa fome no Alentejo indo ao descaramento de apresentar na capa um prato sujo, mas vazio, como se os alentejanos não fossem capazes de encherem os seus pratos.
Eu cá prezo muito o neo-realismo, como corrente literária. Até já aqui falei num homem que começou a escrever no mesmo dia que eu, no “Diário de Lisboa”, mas sendo eu um gaiato jé ele era um ilustre homem de letras, autor do “Cerro maior” e da “Seara de Vento”, um dos grandes romances portugueses do século XX, já ali escrevia outro alentejano neo-realista, o Urbano Tavares Rodrigues, ele e o irmão Miguel senhoritos do Alentejo de passeios a cavalo por entre paisanos que tiravam os chapéus das cabeças quando eles passavam e agora são eles os comunistas, no fim das vidas, já sem comunismo a que se agarrarem e os outros passaram de revolucionários nas terras que não eram suas a proprietários e rendeiros com alguma coisa de seu, sem já acreditarem no que quer que seja, pois então.
NUNCA PENSEI que esta mesma revista alentejana onde escrevo seria tão piegas que nela tivesse de ler choradeiras de Alentejanos que dão conta do mau passadiço uns dos outros, como se tal contituisse motivo para os alentejanos se vangloriarem.
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Por graça, sempre encarei esta publicação como daquelas que ao relatar mortes e ferimentos graves entre os passageiros dum comboio noticiasse, ufana, que os ferimentos e mortes se “tivessem registado, somente, entre os passageiros da terceira classe.” Ou então, que ao citar a morte duma vítima dum prédio que tivesse ruído na Lapa, em Lisboa, desse festivamente conta da ocorrência, acrescentando que, “Graças a Deus, a única vítima era a porteira do malogrado edifício”.
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Revista assim deveria dar conta dos montes e das herdades, das caçadas e do progresso dos negócios dos seus melhores leitores ou mais ilustres accionistas, e para onde estes fogem para fazerem as suas invejáveis férias. Uma revista destas não deve contar como se passa fome no Alentejo indo ao descaramento de apresentar na capa um prato sujo, mas vazio, como se os alentejanos não fossem capazes de encherem os seus pratos.
Eu cá prezo muito o neo-realismo, como corrente literária. Até já aqui falei num homem que começou a escrever no mesmo dia que eu, no “Diário de Lisboa”, mas sendo eu um gaiato jé ele era um ilustre homem de letras, autor do “Cerro maior” e da “Seara de Vento”, um dos grandes romances portugueses do século XX, já ali escrevia outro alentejano neo-realista, o Urbano Tavares Rodrigues, ele e o irmão Miguel senhoritos do Alentejo de passeios a cavalo por entre paisanos que tiravam os chapéus das cabeças quando eles passavam e agora são eles os comunistas, no fim das vidas, já sem comunismo a que se agarrarem e os outros passaram de revolucionários nas terras que não eram suas a proprietários e rendeiros com alguma coisa de seu, sem já acreditarem no que quer que seja, pois então.
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Daí eu ver tudo alterado, ou seja, uma revista destas, que não devia preocupar-se com os pobrezinhos, fala de fome no Alentejo e os comunistas falam não se sabe de quê!? Sabem que mais?! Os espanhóis é que nos safam. Vamos todos falar uns com os outros em castelhano e usamos o nosso dialecto para sermos malcriados um com os outros sem eles perceberem. Acabamos por aproveitarmos esse pretexto para fingirmos que não percebemos nada do que andamos a dizer uns aos outros.Vai ser melhor assim. Vão ver.
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«Mais Alentejo» de Fevereiro de 2008
Daí eu ver tudo alterado, ou seja, uma revista destas, que não devia preocupar-se com os pobrezinhos, fala de fome no Alentejo e os comunistas falam não se sabe de quê!? Sabem que mais?! Os espanhóis é que nos safam. Vamos todos falar uns com os outros em castelhano e usamos o nosso dialecto para sermos malcriados um com os outros sem eles perceberem. Acabamos por aproveitarmos esse pretexto para fingirmos que não percebemos nada do que andamos a dizer uns aos outros.Vai ser melhor assim. Vão ver.
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«Mais Alentejo» de Fevereiro de 2008
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