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UMA DAS BOAS RECORDAÇÕES que conservo de Cascais da minha infância é o concurso hípico. Passeio de modas e feira de vaidades, no meio de tudo isso e do cheiro a cavalos, feno, “Maderas del Oriente”, lavanda, alfazema e suor dos impedidos do Exército e da GNR, cujos oficiais pouco mais tinham que fazer senão cavalgar.
Vem desses tempos uma grande paixão minha, que me derretia a alma e me enchia de ternura o coração. Refiro-me ao cavalo “Raso”, montado pelo major Henrique Calado, um homem de óculos grossos e passada desajeitada, em farda número um, sempre a conversar com senhores de calças de linho e fatos de alpaca, panamás e sapatos ingleses pretos e brancos.
O “Raso” era um campeão. Mas para além da sua elegância, do seu porte, corpulência, das suas narinas cor de rosa e da sua pele quente e fremente, o “Raso” era adorado pela miudagem.
Com o Henrique Calado a falar longe e a fustigar os canos das botas altas com o seu pingalim, eu fugia para a área reservada aos concorrentes para afagar o pescoço e o focinho do “Raso”.E este, de orelhas espetadas, não se surpreendia e aceitava as muitas pequenas mãos que o acariciavam, com um olhar que parecia dizer que aquele era o verdadeiro prémio de mais uma prova conquistada.
Já adulto e no princípio da minha vida de jornais tocou-me a notícia da morte, por velhice, do “Raso”.Ainda foi no tempo das tipografias de chumbo, de jornais a quente. Sei disto porque recordo-me de a ter escrito, titulado, e metido em página, dois parágrafos de linhas soltas de chumbo, notícia pesada e triste, por mim próprio depositada no meio do restante granel com a delicadeza devida a um lírio branco.
Ainda hoje ali jaz o meu campeão!
.UMA DAS BOAS RECORDAÇÕES que conservo de Cascais da minha infância é o concurso hípico. Passeio de modas e feira de vaidades, no meio de tudo isso e do cheiro a cavalos, feno, “Maderas del Oriente”, lavanda, alfazema e suor dos impedidos do Exército e da GNR, cujos oficiais pouco mais tinham que fazer senão cavalgar.
Vem desses tempos uma grande paixão minha, que me derretia a alma e me enchia de ternura o coração. Refiro-me ao cavalo “Raso”, montado pelo major Henrique Calado, um homem de óculos grossos e passada desajeitada, em farda número um, sempre a conversar com senhores de calças de linho e fatos de alpaca, panamás e sapatos ingleses pretos e brancos.
O “Raso” era um campeão. Mas para além da sua elegância, do seu porte, corpulência, das suas narinas cor de rosa e da sua pele quente e fremente, o “Raso” era adorado pela miudagem.
Com o Henrique Calado a falar longe e a fustigar os canos das botas altas com o seu pingalim, eu fugia para a área reservada aos concorrentes para afagar o pescoço e o focinho do “Raso”.E este, de orelhas espetadas, não se surpreendia e aceitava as muitas pequenas mãos que o acariciavam, com um olhar que parecia dizer que aquele era o verdadeiro prémio de mais uma prova conquistada.
Já adulto e no princípio da minha vida de jornais tocou-me a notícia da morte, por velhice, do “Raso”.Ainda foi no tempo das tipografias de chumbo, de jornais a quente. Sei disto porque recordo-me de a ter escrito, titulado, e metido em página, dois parágrafos de linhas soltas de chumbo, notícia pesada e triste, por mim próprio depositada no meio do restante granel com a delicadeza devida a um lírio branco.
Ainda hoje ali jaz o meu campeão!
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