terça-feira, 24 de março de 2009

As lições de Cascais

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OS SÍTIOS ONDE SE APRENDE qualquer coisa permanecem importantes para a gente. Por exemplo, aprendi a andar de bicicleta nas Caldas da Rainha porque a minha avó Felicidade sofria de artrite e todos os anos ia a banhos de lama nas Caldas da Rainha. À tarde, no parque, o meu avô alugava uma bicicleta pequenina até eu me aguentar no selim e ficar às voltas com os joelhos pintados de mercúrio-cromo.
A seguir às Caldas, veio Cascais. Foi aí que aprendi a nadar, no ano a seguir ao da bicicleta. O meu tio Jaime alugou uma chata na praia da Conceição, remou, remou, agarrou numa bola de futebol, atirou-a para longe, depois atirou-me para aquela simpática água geladinha e disse-me:
-Agora agarras-te à bola e nadas para terra.
No ano seguinte aí estava eu no Algés e Dafundo a aprender mariposa, mas foi em Cascais que pensei: “Joaquim, é a vida! Aguentas-te, morres ou ficas na mão do teu tio”.Foi, portanto, nesta simpática aldeia piscatória (podem crer que o era) que tive uma importante lição de vida.
Cascais só me ensinaria coisas depois do 25 de Abril. Quando eu era o único hóspede do Hotel do Guincho, onde passava os fins de semana, e quando jantava numa das duas únicas mesas ocupadas no João Padeiro. Os portugueses ou tinham fugido para o Brasil, convencidos de que eram reaccionários, os eleitores de hoje do António Capucho andavam de punho fechado e não frequentavam covis de fascistas, os chuchas ainda estavam pintados de fresco, os estrangeiros não vinham cá e o Sr. Stanley Ho ainda estava em Macau a dar a volta ao general Garcia Leandro. Querem melhor lição de ciência política?! Quem sabia de política era aquele barbeiro que trabalhava num hotel aqui da linha e que me contrariava:
-Eu, ir também para o Brasil? Você está mas é maluco! Eles voltam.
Digam-me lá se ele não tinha razão…
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«Mais Cascais»

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