O “NÃO” IRLANDÊS ao tratado de Lisboa que os políticos tanto estremeciam depois de disfarçarem a anterior constituição - que a Holanda e a França recusaram em referendo- trocando-o por este manual de remissivos não se reduz a um simples incidente.
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Transformou-se, progressivamente, num vergonhoso acontecimento. Cada vez é mais um acontecimento vergonhoso, na medida em que estes democratas europeus que nos rodeiam o desejam o novo papel votado até o “não” passar a ser um “sim”.Tal como as eleições no Zimbabwe, com o presidente Mugabe.a submeter-se a eleições até as perder.
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Curioso, como estes eurocratas, depois de se arvorem em instrutores, dando treinos, em educadores, fazendo formação, e em políticos profissionais, bolsando sentenças sobre a democracia e a sua prática, proferem a sentença que o sistema de que abusam todos os dias é de grande fragilidade, requerendo ser tratada com a delicadeza duma flor, tão frágil e desprotegida a todos se apresenta!
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Hoje, já ninguém fala na Europa, como antes. Os europeístas convictos e sérios, não se atrevem. Suspiram. Os outros, remetem-se para a sua eterna posição de tiro, aquela donde mais facilmente se alvejam as vantagens, os lucros imediatos, as matérias primas, a sub-mão de obra, as energias e as telecomunicações, negócios e sócios, pois apenas a isto reduziram os interesses da Europa.
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Daqui nasceram dois únicos ruídos, um silvo quase silencioso, outro mesquinho e ganancioso, mas ambos um sussuro que nos murmuram aos ouvidos, meio palavra de ordem, meio pedido por amor de Deus, “façamos a Europa, não para que volte a ser a velha Europa onde vivemos e viveriamos , mas porque deste projecto poderemos arrancar ainda uma nova realização exaltante e carregada de valores específicos, uma obra magnífica, uma experiência excelente para todas as nações no seu conjunto, mas para o nosso querido país em particular! Há que compreender e contrariar a Irlanda, essa Pátria de ingratos que, uma vez tendo feito a sua fortuna, não hesitaram em expressar a sua falta de sentimentos, visto que já não poderia tirar da União mais vantagens do que aquelas que escandalosamente tirou?!
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A Europa, nós, não necessitamos de lições! Não queremos explicações nem pedagogia, nem subsídios nem projectos concretos! Apenas precisamos de calma e de energia. Demonstremos a todos em geral e aos Irlandeses em particular, antes de todos os outros, que não necessitamos deles para nada!”
Pois claro.
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«Mais Alentejo» de Ago 08
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