quinta-feira, 2 de abril de 2009

Sede

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ESCREVER SOBRE ESCASSEZ de água para quem anda com a boca cheia de Alqueva, se não parece mal pode ser um contrasenso. Pois que assim seja, e logo caberá a cada um dos leitores encontrar o que mais preferir: contrasenso naquilo que escrevo ou no que querem fazer do Alqueva.
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No dia em que iniciei a minha vida de jornais, revistas, rádio e televisão no “Diário de Lisboa” que Deus tem, nos idos de 62 do século passado, publicava aquele prestigiado jornal na sua primeira página um título que chamava para o início duma série de artigos cujo título era “Haverá água para os nossos netos?” Para os netos de Norberto Lopes e Mário Neves, houve água. Para os meus, não sei. Mas nunca me esqueci daqueles artigos escritos pelo Manuel Maria da Silva Costa.
Água é fonte de vida. A sua falta põe em perigo o desenvolvimento natural do ser humano em condições aceitáveis. Nos últimos anos, a seca tem flagelado o nosso planeta em consequência dos bruscos desvios climáticos, que são factores determinantes do aumento de muita miséria no mundo. A subnutrição, as doenças, as migrações são reacções habituais às situações criadas por condições inferiores às toleradas no patamar da sobrevivência.
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A escassez de água afecta cada vez mais um sector populacional crescente. Países que não tinham este tipo de preocupação, procuram hoje poupar as suas reservas de água ao mesmo tempo que o nível das chuvas decresce de modo acentuado.
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A mudança climática, a má gestão da água provocam o aumento da desertificação, fenómeno que não deve ser confundido com a seca, nem com a escassez de água. O aumento das temperaturas provoca o degelo dos glaciares, a redução das linhas de costa e o aumento da temperatura global.
A seca não é um fenómeno estranho, apenas um fenómeno normal que, em determinados momentos, afecta zonas que habitualmente não dispõem de capacidade de armazenagem ou de previsão. É o caso do Burkina Faso, do Niger, do Mali e da Mauritânia, onde a falta de chuva leva a população à fome e ao desespero, perante as enfermidades e a morte.
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Por outro lado, os areais do Sahara, do Rub Al Khali (Arábia) ou do Gobi (Ásia) mostram a crueldade da vida debaixo de condições ambientais que apenas contam com 10% de humidade. O problema da seca agudiza-se quando a escassez de precipitações se prolonga durante um período de tempo excessivo. É então que este fenómeno não afecta unicamente a agricultura, mas também cria e agudiza graves conflitos socioeconómicos.
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Os relatórios acerca das mudanças climáticas assinalam que em 11 dos últimos 12 anos se registaram as temperaturas mais elevadas de sempre à superfície do planeta. Em muitos países a seca tem quatro classificações: meteorológica, hidrológica, agrícola e socio-económica.
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O principal impacto desta situação repercute-se directamente sobre a agricultura, um sector que assiste impotente à redução das suas capacidades produtivas. Para disfarçar estes efeitos negativos, que se traduzem em prejuízos económicos milionários, há que prever uma série de disposições a serem postas em prática que, minimamente, assegurem que os abastecimentos urbanos não serão interrompidos. É para isso que se criaram ministérios do ambiente. Para além de fazerem coisas que não se conhecem muito bem, permitam ainda que as câmaras municipais continuem a cuidar de jardins públicos, mas com sistemas de rega por gotejo utilizando água não potável.
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Esperando que estas reflexões aquáticas não vos choquem, os votos para que tirem do Alqueva o que de melhor tanta água vos pode dar, assim saibam e queiram.
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«Mais Alentejo » Abril 08

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