quinta-feira, 2 de abril de 2009

O fim dos erros

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O FILHO DUM AMIGO meu percebeu logo as vantagens do novo acordo da língua portuguesa. Riu-se e decretou:
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- O acordo é bestial. Vai deixar de haver erros. Eu sou a favor do acordo!
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Foi a mais rápida e prática opinião acerca do novo acordo que tanta polémica tem gerado, ainda que quase nenhum debate sério, no âmbito dos Ministérios da Cultura e da Educação, tenha tido lugar para avaliar da justeza e interesse deste acordo para Portugal.
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O Brasil, que é quem melhor trata a Língua Portuguesa, está pacientemente à espera de assinar o acordo. Os africanos, que oficialmente falam a nossa língua, estão caladinhos, moita carrasco, sem que se saiba se o vão subscrever, ou não. Esta posição deixa, aliás, o acordo reduzido a um protocolo luso-brasileiro, ainda que firmado no âmbito da CPLP, com o objectivo político de termos um idioma unificado.
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Quando este acordo estiver em vigor, o grande vencedor será Jorge Coelho, não só porque os contratos da Mota-Engil em Angola passam a ser redigidos à luz do acordo, mas também, e sobretudo, porque poucos hão-de(ou hãode? Ou ãode?) saber como se escreve, e acabarão por preferirem o há-dem da escolha do ex-ministro de Guterres, embora desconhecendo se se escreve assim, ou antes ádem ou adem.
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O Português será um idioma que se passa a escrever como der mais jeito e que, de todas as maneiras, está bem. Razão tem, de facto, o miúdo que é filho dum amigo meu.Vai deixar de haver erros…
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O que vai ser do Português depois do acordo, pouco interessa. Em Portugal, cada vez mais se fala e escreve inglês ou espanhol em detrimento da nossa língua.E se as pessoas e os povos vão continuar a apanhar o comboio e o trem, a ir de ónibus e de autocarro, de papa bicha ou de bus, para quê uma língua única só para todos podermos dizer e escrever lóbi,óbi,dossiê, robô? Uma coisa é certa : muito nos vamos entreter à volta de receção, recessão ou recepção(que os brasileiros não largarão o “p” para distinguirem a recessão económica da recepção da recepcionista)…
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As línguas que mais se falam no mundo são as que mais variantes apresentam e cujos filólogos e Governos jamais pensaram em unificar.Atente-se no castelhano e nas suas 20 variantes, da Argentina à Venezuela, passando por mais duas para o espanhol de Espanha - as variantes moderna e tradicional. Vejamos o inglês, com 18 variantes, da Austrália ao Zimbabwe, incluindo o do Reino Unido e dos Estados Unidos. O francês tem 15 variantes, da Bélgica e Suiça às Índias Ocidentais , passando pelo Mónaco, Costa do Marfim,Senegal e Mali. O árabe tem 16 variantes registadas. O alemão afirma cinco variantes, tantas como o chinês.O servo-croata tem quatro.
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Tínhamos que ser nós a confundir a política com a língua e a querer esta unificação à força, a qual antecederá a dominação inevitável pelos brasileiros da língua que lhes deixámos como instrumento da sua unidade nacional e com a qual se projectarão no mundo inteiro, falando uma língua muito bela que deixará no canto mais ocidental da península ibérica um dialecto, com raiz latina, do qual nasceu.

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«Mais Alentejo» de Mai 08

1 comentário:

Anónimo disse...

isso é muito interessante, estudo na faculdade de Belas Artes de Lisboa, e posso dizer que este ano ainda não foi apresentado um único texto em Português, e quando digo isso refiro-me inclusive a um caso de uma teste em que estava tudo em Inglês.E é engraçado que niguêm se importa com isso.

Pedro O.