quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Os nossos bosques aprisionados

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A MORTE DO SER HUMANO não tem futuro. Refiro-me à única vida que conhecemos. Livres são os voos das crenças e das esperanças. Os cemitérios são bosques aprisionados. Prendem árvores silenciosas para sempre. Os bosques dormem, os homens morrem.

Na raiz da terra, a árvore é a vitória, a recuperação do movimento, o renascer da luz, o regresso da cor, a certeza dos sentidos. O homem é o silêncio que não desperta, os pulsos algemados para todo o sempre, confianças e convicções à parte.

O ser humano impõe as recordações à sua medida. Choramos os defuntos, e oramos a Todos os Santos. Só na segunda interpretação nasce a esperança, baseada na fé nas figuras, no desejo e no sonho. Queremos ser como as árvores mas não sabemos como, nem qual a melhor maneira de o afirmarmos. As árvores provam-nos que podem voltar a viver. Nós ficamos à espera. Há meses bem escolhidos para albergarem as nossas melancolias e saudades. Nos cemitérios dormem as vidas e arredondam-se as arestas.

As vidas param e não permitem outro tipo de considerações. Por isso, choramos quando enterramos o corpo dum ente querido, ou espalhamos as cinzas duma vida amada.

Se estivéssemos seguros de nós próprios, como as árvores, não espalharíamos flores. Mas mais do que medo, pior do que receio, sentimos uma grande ignorância, um enorme aborrecimento, uma assustadora incógnita sem resposta. As árvores não têm esse nosso problema.

Novembro é um mês triste e também o são estes que se lhe seguem, até à Primavera, que para nós não é futuro, ao contrário das árvores. É demasiadamente Outono e Inverno. Melhor que passem depressa, para mais perto ficarmos da Primavera. E então a vida voltará a estalar, novos verdes ressurgirão com outras promessas de abundância. O bosque desperta e os nossos mortos dormem enquanto as árvores nos recordam que, neste mundo, pelo menos, há uma vitória sua.

«Mais Alentejo» - Fevereiro 2010

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