segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

A infelicidade caucasiana

COM OS INCIDENTES na Geórgia, as atenções gerais desviam-se da crise universal do capitalismo para o“nacionalismo russo”.que não quer mudar o mundo nem reeditar as ambições das aventuras de Pedro o Grande a Leonidas Brejnev.

Não acredito que Medvedev nem Putin desejem reconquistar o velho espaço soviético, nem que a Geórgia seja a primeira etapa na corrida à Ucrânia antes da volta à Crimeia. Mas acredito que possa ser o princípio duma grande maçada para nós todos, com novas crispações do povo russo, convulsões bálticas, birras moldavas e ucranianos a levantarem malcriadamente a voz, com a China, a Turquia e a América indispostas e a Europa com mais enfado.

A Rússia de Putin vem de longe, da servidão das estepes seculares. O actual regime russo é uma secreta esperança democrática. Mas é um despotismo de extrema eficácia, temperado no aço do capitalismo, concebido na frieza do KGB, sem desdenhar a disciplina, a prisão, o exílio, as contas bancárias, os pipe-lines, os furos de petróleo, as minas dos diamantes,Cannes e Mónaco e outros paraísos com classe. Os russos de agora são capitalistas pirosos provenientes do socialismo com paraísos fiscais como os príncipes de 1917 nunca tiveram a dita de experimentar, nos seus exílios doridos de “John, o Chofer russo”.

O poder de Putin é-lhe conferido por um povo para quem ele reconquistou a disciplina, destruiu a anarquia e devolveu o orgulho patriótico. Isto apesar da perda da Ucrânia, que pisca o olho À NATO e da BieloRússia e sem os países da Europa oriental e com a Crimeia a querer renegociar o acesso da frota russa a Sebastopol.

A América projecta um anel anti míssil na República Checa e na Polónia e acicata um presidente georgiano sem juízo. Por outro lado, a “integridade dos Estados” continua a ser um princípio sacrossanto da paz. Daí a provocação do Kosovo e a rebelião das Ossécias e da Abkásia contra a Geórgia oferecer a Moscovo uma oportunidade única. Oxalá que depois da brutal provocação balcânica não estejamos à porta da infelicidade caucasiana.

«Mais Alentejo» de Outubro 2011

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