quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Para lá do resgate

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MÁRIO Sepúlveda foi o segundo a sair do horroroso pesadelo que engolira os 33 mineiros numa mina no Chile 69 dias antes, a uma profundidade de 700 metros. Extrovertido, exuberante, Sepúlveda foi de todos o que mais impressionou pela pureza do raciocínio e por acreditar em alguma coisa para além do resgate que comoveu o mundo entre terça e quinta-feira desta semana.

-Agora, por favor, não nos tratem como se fôssemos artistas ou jornalistas, tratem-me como mineiro, sou mineiro e morrerei mineiro - pediu o entroncado e sorridente mineiro aos mais de mil repórteres que registavam as suas palavras à saída da cápsula que o trouxera das profundezas, acrescentando:
-As leis e as condições laborais têm de mudar!

Após as trevas, as luzes da ribalta e certos misteres equívocos não fazem sentido para este mineiro e filho de mineiro de 40 anos de idade, que sempre acreditou no momento único de felicidade a que o mundo assistiu. Quanto ao desejo de melhores condições de vida e de trabalho a partir de agora, também comove haver quem ainda acredite e valorize o trabalho do homem. Infelizmente, tanta esperança só parece existir na cabeça de quem esteve tantos meses enterrado vivo.

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