UM QUERIDO amigo meu, que há muito não tinha o prazer de rever, desafiou-me a escrever histórias do passado, ocorridas comigo e com personalidades nacionais e estrangeiras dignas de destaque, bem como me exortou ainda a narrar factos importantes por mim vividos.
Confessei-lhe que já há muito me ocorrera semelhante pensamento, mas logo o abandonei por diversas razões. A primeira, é uma rejeição muito pessoal desse tipo de escrita, talvez inspirada, desde muito jovem ainda, por uma frase de Pittigrilli que nunca esqueci: aquele que escreve memórias é como um fulano que se assoa e depois olha para o lenço, antes de dobrar e guardar no bolso.
Depois desta razão principal argumentei com o meu amigo explicando-lhe ainda que ele não imaginava a quantidade de histórias adulteradas e narradas por falsas testemunhas ou participantes mentirosos, com má memória e sem vergonha nenhuma, capaz de jurarem a pé juntos terem travado um diálogo ou assistido a um facto que nunca aconteceram.
As inexactidões deste tipo são muitas vezes ditadas pela vaidade, pela inveja, pela desonestidade e pela pouca vergonha, ou ainda, ingenuamente, pelo desejo de ter graça. E uma coisa é contar histórias que podem ser corroboradas por alguém mais, que verdadeiramente as viveu, outra é fingir que se recorda acontecimentos e frases que nunca existiram com alguém, e de gente, que já não está entre os vivos e não se pode defender da calúnia e limpar-se de algo que nunca fez ou de alguma coisa que não proferiu.
Numa terra sem memória e cada vez mais à mercê de gente pouco séria que à memória exacta da verdade prefere a vaga ideia da mentira, é melhor não nos metermos nisso de recordações, a não ser aqueles destinadas aos filhos e netos estremecidos e amigos de confiança. De outra maneira, corremos igualmente o risco de parecermos um desses aldrabões de feira que nos contam o que mais lhes convém ou aquilo que os torna engraçados, e perder-nos nessa interminável multidão de cães e gatos que são autores. Ou, hoje em dia, conhecem algum cão ou gato que não tenha escrito um livrinho?
.Confessei-lhe que já há muito me ocorrera semelhante pensamento, mas logo o abandonei por diversas razões. A primeira, é uma rejeição muito pessoal desse tipo de escrita, talvez inspirada, desde muito jovem ainda, por uma frase de Pittigrilli que nunca esqueci: aquele que escreve memórias é como um fulano que se assoa e depois olha para o lenço, antes de dobrar e guardar no bolso.
Depois desta razão principal argumentei com o meu amigo explicando-lhe ainda que ele não imaginava a quantidade de histórias adulteradas e narradas por falsas testemunhas ou participantes mentirosos, com má memória e sem vergonha nenhuma, capaz de jurarem a pé juntos terem travado um diálogo ou assistido a um facto que nunca aconteceram.
As inexactidões deste tipo são muitas vezes ditadas pela vaidade, pela inveja, pela desonestidade e pela pouca vergonha, ou ainda, ingenuamente, pelo desejo de ter graça. E uma coisa é contar histórias que podem ser corroboradas por alguém mais, que verdadeiramente as viveu, outra é fingir que se recorda acontecimentos e frases que nunca existiram com alguém, e de gente, que já não está entre os vivos e não se pode defender da calúnia e limpar-se de algo que nunca fez ou de alguma coisa que não proferiu.
Numa terra sem memória e cada vez mais à mercê de gente pouco séria que à memória exacta da verdade prefere a vaga ideia da mentira, é melhor não nos metermos nisso de recordações, a não ser aqueles destinadas aos filhos e netos estremecidos e amigos de confiança. De outra maneira, corremos igualmente o risco de parecermos um desses aldrabões de feira que nos contam o que mais lhes convém ou aquilo que os torna engraçados, e perder-nos nessa interminável multidão de cães e gatos que são autores. Ou, hoje em dia, conhecem algum cão ou gato que não tenha escrito um livrinho?
«Mais Alentejo» - Nov 2010
3 comentários:
Mas há cães e gatos que até escrevem bem! Ou melhor, escrevem as historinhas que muitos gostam, é tipo a realidade das novelas...
Caro J. Letria,
Posso apresentar-me?
Sou uma leitora àvida ( ou àvida leitora : ) ) das suas crónicas. Gosto da forma como escreve, gosto do seu sentido de humor, em suma, gosto como se expressa. Adoro ler estórias e tenho a certeza que tem centenas delas para nos contar. Portanto, quando estiver disposto a fazê-lo – e por favor, não demore muito – vou sentar-se aqui em frente ao monitor, muito sossegadinha, e ler tudo aquilo que tem para escrever. : )
Cumprimentos.
Sr.Joaquim Letria, escrevo apenas para lhe dar os parabéns pelo seu excelente blog.Obrigada pelos textos que escreve e pela sua sinceridade.
Abraço
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