terça-feira, 31 de março de 2009

Adão, Eva e Darwin ou os macacos e o pecado

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DESDE QUE A SANTA MADRE IGREJA aceitou a teoria da evolução das espécies que eu fiquei preocupado.Pio XII reconheceu-a como devia, mas nós sabemos que a Santa Madre Igreja deixa humildemente passar alguns séculos até reconhecer os seus erros.Se agora Darwin e Galileu têm razão,é possível que dentro de 200 ou 300 anos os defensores do casamento entre seres do mesmo sexo também sejam reconhecidos pela Santa Madre Igreja como tendo razão.Nunca se sabe.
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Já antes do reconhecimento tardio do Vaticano que se suspeitava, com fundamento, descendermos dos símios.A verdade é que basta ir ao Jardim Zoológico ou a um circo e observarmos os chimpanzés com alguma atenção para facilmente acreditarmos que o homo sapiens é um primata evoluído porque, ao que nos contam, os nossos antepassados Adão e Eva eram muito piores do que os macacos, além de constituírem um casal de irresponsáveis. Basta termos por bom aquilo que nos ensinaram na catequese.
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Nessa versão,Adão, Eva, Caim e Abel ultrapassaram tudo o que seria permitido, está bom de ver, porque para a nossa espécie vingar teriam, no mínimo, cometido aquilo que ainda hoje é considerado incesto,capaz de levar crianças a oscilarem entre pais biológicos e famílias de acolhimento, o que hoje constitui uma dor de cabeça para juízes e outros magistrados e que naqueles tempos não dava sequer que pensar entre a divertida comunidade.
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Os tempos não deram a Darwin oportunidade para que ele proferisse uma frase daquelas que chegam até aos nossos dias.Ele poderia ter dito “não há dúvida que descendemos do macaco, mas há macacos e macacos, há uns que são muito mais macacos do que outros e, por isso, nem todos os macacos são iguais”. Nós, hoje, sabemos que é assim, mas dito por Darwin teria sido muito mais fácil de aceitar.
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-De que se disfarçou o Diabo para tentar Eva?- perguntava-nos o padre Queirós.
E nós :
-De serpente.
E ele:
-Porque expulsou Deus Adão e Eva do Paraíso?
E nós:
-Por morder uma maçã da árvore do bem e do mal.
E o padre:
-Que consequência teve essa tentação?
-E nós:
-O pecado original.
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Ensinaram-me que este disparate é verdadeiro e não tive mais remédio senão acreditar. Mas apesar de me estar nas tintas para esta e outras historietas, ainda me irrita a conversa dos macacos e fico com pena de que desmintam assim o padre Queirós, porque não consigo descobrir nada de erótico em dois símios a roerem uma maçã. Atirem-lhes uma para dentro da “Aldeia do Faustino”, em Palhavã, observem, e depois venham contar-me se tenho ou não razão.

«Mais Alentejo» de Jan 08

sábado, 28 de março de 2009

CONFIDENCIAL - «24 Horas» de 28 Mar 09

Prémio no Lago Como

UMBERTO ECO, o semiólogo, escritor e um dos intelectuais mais apreciados no Mundo, foi o vencedor da primeira edição do Prémio Alessandro Manzoni, um troféu decidido em Lecco, onde fica a fabulosa Casa Manzoni, uma fantástica residência sobre o Lago Como,onde se está voltado para o MezzoGiorno. O Prémio foi atribuído por unanimidade ao “Bustina de Minerva”, de 1988,onde fora escrito “Os Esposos prometidos”, um grande romance fora do nosso tempo. Ecco dissertava ainda acerca da polémica da obra prima de Manzoni dever ser, ou não, leitura obrigatória do ensino secundário.
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Debaixo de olho

Com isto acaba a discussão acerca da prioridade, quem deveria ter passado primeiro, de quem foi a culpa, quem vai pagar a despesa. Por isto mesmo parece que ninguém quer, como as tecnologias no futebol, para que se continue a fazer aldrabice a favor duma das partes.A invenção nem tem nada de excepcional. Chamam-lhe RoadScan e não é mais do que o desenvolvimento das câmaras com que nos mostram corridas da fórmula 1, colocadas em um dos carros cujo proprietário a tenha querido instalar. O sistema é da Hyundai, a revolucionária marca coreana, e custa menos de 300 euros. Ao fim e ao cabo é mais um instrumento de High-Tech destinado a aumentar a segurança ao volante. Tal como o GPS, neste caso basta aceder ao sítio “www.roadscan.it ou www.maplin.co.uk.e saber que conduz sempre debaixo de olho.
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É bom o telemóvel na escola

A Universidade de Nottingham desenvolveu uma experiência muito bem sucedida para investigar o interesse dos alunos na escola e na utilização, no seio desta, dos telemóveis. Claro que para se progredir desta maneira e obter excelentes resultados, como foi o caso, os professores têm de trabalhar um bocadinho e desenvolver um pouco de criatividade. Mas os resultados deste trabalho foram excelentes. O tempo de prova foi de nove meses e 331 alunos de diferentes escolas secundárias foram mobilizados. O argumento foi o da tecnologia ajudar a organização do estudo. Neste âmbito coube tudo: organização de pequenos filmes, uso da agenda para anotar compromissos, registo das aulas e respectivos sumários, uso do cronómetro para registar tempos de experiências químicas, aprofundamentos de ligações à Internet, etc..O sucesso foi enorme e nenhum destes alunos se serviu do telemóveis que utilizou para falar ou enviar mensagens fora do âmbito do exercício. Na sua reunião de Edimburgo, o British Educacional Research Association, em Edimburgo, mostrou até o aumento da motivação dos alunos envolvidos na experiência.
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Arroz milagroso

O estrato de Xuezhikang, de arroz vermelho chinês,reduz o risco de ataques cardíacos em 45 por cento a pessoas que já tenham sofrido um enfarte.não são os chineses quem o diz, mas sim os cientistas americanos que publicam a “American Journal of Cardiology” depois de se terem debruçado sobre a pesquisa desenvolvida em 5 mil doentes chineses com idades compreendidas entre os 18 e os 70 anos.O estudo também não foi um trabalho feito à pressa: durou cerca de 5 anos e envolveu 60 hospitais diferentes em todo o território da República da China.Os investigadores revelaram ainda que este estrato diminuía em um terço a mortalidade cardiovascular e em dois terços a mortalidade oncológica.
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Luz contra insónia

Há uma forma muito interessante de combater a insónia para aqueles e aquelas que não possam, ou não devam, tomar fármacos que induzam o sono.Para ajudar a dormir melhor, e afastar os riscos de depressão post-parto, os neurologistas da Universidade da Geórgia usaram, com sucesso, uma terapia baseada na luz e provaram a sua eficácia em mais de uma vintena de voluntárias. As parturientes sujeitavam-se durante um mês a uma luz verde-azul de 10 mil volts, com uma máscara protectora apropriada, e, em regra dormiam mais uma hora durante a noite e menos uma hora durante o dia, enquanto as restantes voluntárias, sujeitas a uma pálida luz rosa-branca, ou rosa-amarela, perdiam em regra, pelo menos, uma hora de sono.
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Vão para a Padânia

Grande experiência de liberdade pode ser a navegação no “site” italiano do partido para a independência da Padania (www.giovannipadani.leganord.com). Ali figura a adesão, para qualquer jovem padano, ao semiólogo anarco-libertário Noam Chomsky, do qual se reproduzem alguns dos magníficos trabalhos acerca da liberdade de Imprensa .Trata-se do panfleto “As Traseiras do Tio Sam”,magnífico texto que o democrata norte-americano Noam Chomsky dedicou ao colonialismo ianque na América Latina. A leitura recomenda-se aos emergentes neo-censores que entre nós se manifestam favoráveis às restrições crescentes da liberdade de Imprensa.
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LIVROS

“El Secreto del mal”(O Segredo do mal)
De Roberto Bolaño
Anagrama(Espanha)
187págs.,14EurosUma derradeira colecção de contos editados por Ignacio Echevarria.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Tenreiro

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O “MAIS CASCAIS” trouxe-me lágrimas aos olhos ao publicar aquela ternurenta foto dos entes queridos da D. Maria José Lacerda e Melo que deram vida ao Clube Naval. Que saudades dos “Stars” e dos “Snipes” e suas gloriosas tripulações, pendurados na grua, desce a rampa, sobe a rampa, antes e depois da regata!?
A incontornável Zezinha, para seus amigos do peito, teve porém um lapso que se repercutiu na legenda que não referia na foto o Sr. almirante Henrique Tenreiro, em primeiro plano à direita, de fato cinzento, sendo com o Sr. Almirante Américo de Deus Rodrigues Thomaz - então apenas ministro e autor do célebre Decreto 100 que restauraria a nossa Marinha Mercante que democratas de água doce se encarregariam de afundar - as duas únicas figuras a envergar chapéu, no meio de tantos ilustres “sportsmen” em cabelo e corpinho bem feito.
Que me perdoe a Zezinha este atrevimento, mas confesso-lhe que não posso ver um ostracizado! Magoou-me mais a recordação de ter visto o pobre do Trotsky apagado das imagens em São Petersburgo e em Yalta, do que a circunstância de ter tentado sem sucesso, com o meu saudoso amigo Dr. Salles Lane, trazer o almirante do Brasil, onde acabaria por morrer na miséria, impedido de regressar à Pátria Amada.
O nosso povo, na sua azougada ternura, dizia que o Almirante, que tantos cargos ocupava e tantas funções desempenhava, “tinha mais lugares do que um autocarro de dois andares”.Imagino o desvelo e o fervor intelectual que Jorge Coelho, António Vitorino,Pina Moura e tantos outros esforçados socialistas e sociais democratas poriam em conversas com o almirante Tenreiro se o têm deixado retornar.
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«Mais Cascais»

quinta-feira, 26 de março de 2009

O meu campeão

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UMA DAS BOAS RECORDAÇÕES que conservo de Cascais da minha infância é o concurso hípico. Passeio de modas e feira de vaidades, no meio de tudo isso e do cheiro a cavalos, feno, “Maderas del Oriente”, lavanda, alfazema e suor dos impedidos do Exército e da GNR, cujos oficiais pouco mais tinham que fazer senão cavalgar.
Vem desses tempos uma grande paixão minha, que me derretia a alma e me enchia de ternura o coração. Refiro-me ao cavalo “Raso”, montado pelo major Henrique Calado, um homem de óculos grossos e passada desajeitada, em farda número um, sempre a conversar com senhores de calças de linho e fatos de alpaca, panamás e sapatos ingleses pretos e brancos.
O “Raso” era um campeão. Mas para além da sua elegância, do seu porte, corpulência, das suas narinas cor de rosa e da sua pele quente e fremente, o “Raso” era adorado pela miudagem.
Com o Henrique Calado a falar longe e a fustigar os canos das botas altas com o seu pingalim, eu fugia para a área reservada aos concorrentes para afagar o pescoço e o focinho do “Raso”.E este, de orelhas espetadas, não se surpreendia e aceitava as muitas pequenas mãos que o acariciavam, com um olhar que parecia dizer que aquele era o verdadeiro prémio de mais uma prova conquistada.
Já adulto e no princípio da minha vida de jornais tocou-me a notícia da morte, por velhice, do “Raso”.Ainda foi no tempo das tipografias de chumbo, de jornais a quente. Sei disto porque recordo-me de a ter escrito, titulado, e metido em página, dois parágrafos de linhas soltas de chumbo, notícia pesada e triste, por mim próprio depositada no meio do restante granel com a delicadeza devida a um lírio branco.
Ainda hoje ali jaz o meu campeão!
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«Mais Cascais»

quarta-feira, 25 de março de 2009

Os filhos

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CASCAIS ERA UMA DELÍCIA aqui há meio século atrás. Beleza irrepreensível, boa terra e gente simpática, os de lá e os “remediados”que a procuravam para descansar aos fins de semana, ou ali tinham casa para as férias das crianças. Ricos havia-os, mas não se viam, como é natural e próprio da espécie.
As cabeças coroadas depostas que haviam escolhido Cascais e o Estoril para lugar de exílio davam uma patine muito especial à Costa do Sol, o Palácio do Estoril era um verdadeiro grande hotel de enorme encanto e o peixe fresco não tinha igual.
Muitos dos chalés e dinheiro eram dos latifundiários. Viviam à tripa forra dos subsídios que o “ancient regime” lhes dava pelo “Celeiro de Portugal” e deixavam os trabalhadores rurais morrer de fome no Alentejo, até a CUF do Barreiro, as corticeiras da Arrentela, a Siderurgia de Paio Pires e a Lisnave na Cova da Piedade lhes estenderem a sobrevivência, sem terem de perder a dignidade nem de atravessar o rio.
Para servir em casas ricas havia os marçanos nas charcutarias, moços de cozinha do “Fim do Mundo”, “grooms”ou pasteleiros, misteres geralmente entregues a quem descia do interior, a falar sibilante para as “madameses” e outras “Voxas Exchelências”, de espinha helicoidal e um jeito muito especial para abanar o chocalho.
Mas em Cascais até estes aprendiam boas maneiras e morriam muito mais bem educados do que os filhos, cuja casca grossa temos nós, ainda hoje, de desbastar, segurando-lhes o cavalo ou aguentando-lhes os comprimidos e o mau vinho.
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«Mais Cascais»

terça-feira, 24 de março de 2009

As lições de Cascais

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OS SÍTIOS ONDE SE APRENDE qualquer coisa permanecem importantes para a gente. Por exemplo, aprendi a andar de bicicleta nas Caldas da Rainha porque a minha avó Felicidade sofria de artrite e todos os anos ia a banhos de lama nas Caldas da Rainha. À tarde, no parque, o meu avô alugava uma bicicleta pequenina até eu me aguentar no selim e ficar às voltas com os joelhos pintados de mercúrio-cromo.
A seguir às Caldas, veio Cascais. Foi aí que aprendi a nadar, no ano a seguir ao da bicicleta. O meu tio Jaime alugou uma chata na praia da Conceição, remou, remou, agarrou numa bola de futebol, atirou-a para longe, depois atirou-me para aquela simpática água geladinha e disse-me:
-Agora agarras-te à bola e nadas para terra.
No ano seguinte aí estava eu no Algés e Dafundo a aprender mariposa, mas foi em Cascais que pensei: “Joaquim, é a vida! Aguentas-te, morres ou ficas na mão do teu tio”.Foi, portanto, nesta simpática aldeia piscatória (podem crer que o era) que tive uma importante lição de vida.
Cascais só me ensinaria coisas depois do 25 de Abril. Quando eu era o único hóspede do Hotel do Guincho, onde passava os fins de semana, e quando jantava numa das duas únicas mesas ocupadas no João Padeiro. Os portugueses ou tinham fugido para o Brasil, convencidos de que eram reaccionários, os eleitores de hoje do António Capucho andavam de punho fechado e não frequentavam covis de fascistas, os chuchas ainda estavam pintados de fresco, os estrangeiros não vinham cá e o Sr. Stanley Ho ainda estava em Macau a dar a volta ao general Garcia Leandro. Querem melhor lição de ciência política?! Quem sabia de política era aquele barbeiro que trabalhava num hotel aqui da linha e que me contrariava:
-Eu, ir também para o Brasil? Você está mas é maluco! Eles voltam.
Digam-me lá se ele não tinha razão…
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«Mais Cascais»

segunda-feira, 23 de março de 2009

Esta coisa da Matemática

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NO ENSINO DA MATEMÁTICA há agora investigadores e pedagogos a aconselharem que os professores se concentrem mais no número aproximado do que na precisão aritmética, trocando esta última pelos cálculos gerais.
O sentido numérico aproximado sempre foi essencial para a sobrevivência animal: como podem dois chimpanzés saber que é melhor não provocarem um grupo de oito? Como preferem os pássaros uma ameixoeira carregada de frutos de outra sem ameixas, sem as contar?
Os nossos miúdos estão a ficar parecidos com estes animais. O que eles não sabem é dividir 529 por 2.200 nem qual é a raiz quadrada de 23.Mas distinguem uma fila maior de uma mais pequena num supermercado ou sabem escolher entre uma discoteca muito frequentada e outra vazia. De resto, sabem distinguir o mesmo que os ratos, os pombos, os bebés e os macacos. Ou seja, aquilo que não lhes ensinaram na escola...
Os cientistas do conhecimento puderam concluir que calcular é contrário ao automático,ao instintivo. Esta é a razão pela qual se demorou tanto a descobrir que fazer contas nada tem a ver com a nossa fórmula aproximativa, tão antiga que é prévia à própria linguagem.Mas todos concordam que o número aproximado pode contribuir para um melhor ensino da matemática. Calcular e manipular representações numéricas é uma habilidade exclusivamente humana e muito recente. Mas o método aproximativo tem muito a ver com o próprio ensino e aprendizagem das matemáticas simbólicas e abstractas. O que tem graça. Afinal de contas, Einstein e Platão inspiraram-se nos mesmos princípios que levam um pássaro ou um rato a procurar comida.

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«Mais Cascais»

sábado, 21 de março de 2009

CONFIDENCIAL - «24 Horas» de 21 Mar 09

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Em nome dos Pais e dos Filhos
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A PENÍNSULA DE BARÚ, a Oeste de Cartagena das Índias, pertence a Beatriz e Júlio Santo Domingo, um casal elegante da Ibero América, onde é mais conhecido do que o cão negro. Para Barú as pessoas foram de helicóptero, evitando as curvas e contracurvas da estrada reservada aos camiões e carros de abastecimento e segurança. Quinze famílias numerosas e provenientes de quase todo o continente reuniram-se agora nas casas da família de Santo Domingo. No conjunto, esta gente representava mais de 80 por cento do PIB latino americano.
Há seis anos que fazem reuniões destas, agora marcadas para de três em três anos, transformadas num evento que denominam “Pais e Filhos”. O objectivo destas reuniões de famílias geradoras de tanta riqueza é conhecerem-se melhor, trocarem informação e opiniões, estabelecer redes de colaboração e alargarem a influência, fazendo questão de juntarem também os filhos, com o propósito de projectar os resultados para o futuro.
A primeira reunião foi em 2003, no México, com Carlos Slim como anfitrião. Em 2006, fizeram a segunda reunião, esta com a hospitalidade de Gustavo Cisneros. Este ano tocou a vez à família Santo Domingo no seu enclave paradisíaco, com diversas casas de diversas proporções para albergarem amigos, uma praia privada com marina privada, barcos de recreio de tão diverso tipo que até um junco chinês que Santo Domingo trouxe quando esteve na China como Embaixador da Colômbia serviu para passear os amigos pela costa Atlântica do seu País...
À volta dos Santo Domingo podiam ver-se as outras duas grandes fortunas colombianas, os Ardila e os Sarmiento, assim como os Cisneros e os Slim, um verdadeiro núcleo duro dum movimento apostado a derrotar a crise financeira mundial. Haverá quem julgue que esta gente, em plena crise, se junta para apanhar sol, tomar banho, comer bem e divertir-se melhor. Desenganem-se! A preocupação desta gente é continuar a criar riqueza em tempo de penúria. Reparti-la já é outra história…
Mas imaginem o Amorim, o Belmiro, o Nabeiro, o Salvador Caetano, o Espírito Santo e o Balsemão na Quinta da Marinha, no Alentejo ou no Norte, reunidos no mesmo propósito! O que se diria deste nosso Avos dos pobres!
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Baltazar Garzón apertado…
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O JUIZ BALTAZAR GARZÓN, que já foi secretário de Estado da Justiça espanhola e continua a sua missão de justiceiro internacional, está apertado por causa dum esquecimento que o deixa mal visto. Em Espanha e no resto do Mundo, de uma maneira geral, os juízes têm de ser sérios, mas isso não basta! Tal como a mulher de César, têm de ser sérios e parecê-lo! O problema de Baltazar Garzon, que está a ser investigado, é que pediu uma licença sem vencimento para poder ir ensinar na Universidade de Nova York e ali esteve 16 meses a receber 160 mil dólares de “nomina”, o que acumulou com os cerca de 4.500 euros de vencimento mensal pago pela 5ª Vara do Tribunal Central de Instrução de Madrid. Fontes próximas do magistrado juram que não houve má fé, pois o juiz deu conhecimento do total daquelas importâncias na sua declaração fiscal, que de facto é irrepreensível. Quanto à importância que recebeu e acumulou com o salário nova iorquino, o juiz faz saber que foi um descuido, pois ninguém lhe perguntou… e ele não pensou que devia dar conhecimento das retribuições quando estas foram posteriormente fixadas. Moral da história: Garzon recebeu 160 mil dólares do Centro de Direito e Segurança de que não deu conhecimento, o Centro Rei Juan Carlos I aprovou os gastos do magistrado em Nova York: 21.152 dólares e mais 21.650 de propinas da escola da filha e, por fim, acumulou todos estes subsídios com 72 mil euros correspondentes ao seu vencimento de cerca de 4500 euros mensais pela sua função em Madrid. Distracções corrigíveis mas que deixam o juiz mal visto em Espanha, onde ainda não há a desenvoltura e a impunidade portuguesas para lapsos destes.
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Terrorismo irlandês para continuar
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SHANE O’DOHERTY, antigo membro do IRA, está convencido que estes dissidentes que recentemente mataram soldados e polícias no Ulster mantêm uma sólida vontade e organização que lhes vai permitir matarem mais gente, entre a qual alguns líderes do Sinn Fein. O’Doherty tem alguns velhos amigos entre estes terroristas. O antigo guerrilheiro critica a publicidade dada a estes recentes atentados, dizendo que a sociedade deveria habituar-se a incidentes daquele tipo, como em Espanha, com a ETA. O’Doherty diz que hoje é impossível evitar acções violentas, com um número baixo de perdas, devido à facilidade com que na Europa se compra armas e explosivos. O antigo membro do IRA recorda que os protestantes não entregaram as suas armas, pelo que é natural retaliações que poderão voltar a potenciar o conflito naquele território.
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Depardieu em segundo
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DANY BONN foi o actor francês mais bem pago durante o ano de 2008. O actor declarou 26 milhões de euros de rendimento, ficando muito à frente de Gerard Depardieu, o segundo da lista, apenas com 3,54 milhões de euros.Daniel Auteil foi o terceiro, com 3,2 milhões. De notar a diferença de honorários praticados na Europa e nos Estados Unidos, onde é corrente um actor de topo cobrar 15 milhões de dólares por participação num único filme.
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Afinal quem é o pai?

O JOVEM PAPÁ de 13 anos que surpreendeu o Reino Unido e o mundo ao se apresentar como pai da criança da mamã Chantelle, de 15 anos, fez um teste de DNA e vê a sua paternidade ameaçada. É que Joe, um irmão dele de 16 anos e Richard e Tyle, outros dois amigos de 14 anos da jovem mãe, também dizem que a criança é deles já que todos molhavam a sopa na mesma Chantelle. O problema é que o “Sun” já pagou 40 mil euros por fotos e um vídeo de Alfie com a filha e o Channel 4 já gastou 57 mil euros.Então quem será o papá? O primeiro ou os atrasados?
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LIVROS
“Introdução à fenomenologia”
De José Gaos
WWW.Edições- Encuentro.ES
227 págs.,€19
Um símbolo da comunidade ibero-americana de pensamento e um estímulo para não perder o hábito feliz de pensar.

sábado, 14 de março de 2009

CONFIDENCIAL - «24 Horas» de 14 Mar 09

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Hotel de muita leitura

NEM PARECE VERDADE para os bibliófilos, mas posso garantir que podem acreditar porque é mesmo verdade, verdadinha. Todos eles e mais os viajantes e turistas culturais têm um Hotel em Nova York que é mesmo feito por medida para o seu gosto: 6 mil livros distribuídos pelos seus dez andares, com temas que vão da religião à ciência, ordenados pelo sistema de catalogação decimal Dewey. Se é amante da arte, os bons quartos ficam no sétimo piso, onde podem encontrar os livros internacionais de fotografia, moda e música. Para quem prefere a narrativa e a poesia, faz favor de ficar no oitavo piso, apesar deste ser o mais procurado por causa da sua oferta de temas eróticos. De tal maneira que o preço dos seus quartos duplica. Enquanto pode ficar geralmente por 150 euros por noite, no oitavo piso o quarto custa 300 euros. Enfim, se gosta de ler ou tem suficiente curiosidade para matar, recomendo-lhe o Library Hotel, na esquina de Madison com a Rua 41, a dois passos da Biblioteca Pública. Se não vai, mas quer ver, vá à net e busque em libraryhotel.com. Em qualquer dos casos, boa viagem e uma excelente estadia.

Já direitos a Floripa!

JÁ QUE HOJE FAÇO recomendações turísticas, procurando destacar o que é menos conhecido de quem gosta de viajar ou tem de se dar a esse incómodo, por este ou aquele motivo, deixem-me entrar pelo Brasil e vender-vos alguma coisa que foge ao Nordeste das nossas agências de viagem, às rotas da TAP e às revistas cor de rosa e sua detestável freguesia. Assim, falo-vos hoje de Florianópolis, ou Floripa, como lhe chamam os seus habitantes e também os paulistas. Fica na Lagoa da Conceição, no coração da Ilha de Santa Catarina, tem 400 mil habitantes, uma cultura 60 por cento alemã e 40 por cento italiana, cujas respectivas comunidades têm tratado muito bem esta pérola de fazendas, quintinhas, hotéis, restaurantes, escolas exemplares, transportes eficientes e cómodos e tão segura que nem parece estarmos no Brasil. Floripa larga-nos uma energia criativa que é bom sabermos aproveitar, seja nos pubs, bares, teatros, museus e clubes. Os restaurantes oferecem excelentes peixes e mariscos frescos. Os consumistas têm à disposição pequenas lojas encantadoras e moderníssimos centros comerciais, e claro que tem excelentes praias. De que é que está à espera??! Olhe que Abril já é mais fresco e molhado!

O amor de Miami

COM 45 ANOS de idade, dos quais os últimos 20 passou a revolucionar cidades americanas com o seu conceito de New Urbanism, Craig Robins, natural de Miami, decidiu transformar para melhor a sua cidade natal e está a consegui-lo. Há também quem lhe chame o Donald Trump da Florida, por ter lançado o Design District de Miami, hoje um bairro de culto, recuperado duma área degradada da cidade, hoje cheia de galerias, lofts de artistas, casas de gente jovem e bonita, designers, restaurantes, galerias e citório de pequeno imobiliário. O último projecto de Robins chama-se Aqua e é o mais ambicioso de todos: construir um bairro residencial completo em Allison Island, uma zona ao Norte de Miami. Depois de na South Beach ter construído o supra-sumo da arte Déco, Robins que contrariar os arranha-céus que nos anos 50 estragaram o horizonte daquela interessante cidade - Robins não esconde o seu amor por Miami.

O som de Abbado

QUANDO O MAESTRO Abbado se apresentou em Berlim para substituir o lendário Von Karajan à frente da Filarmónica de Berlim, o italiano, na sua apresentação, disse aos músicos, com grande simplicidade: ”Quero e gostaria muito que me chamassem apenas Cláudio”. Com estas palavras os Berliner Philarmoniker perceberam que estavam a viver o início duma nova era. Até 2002 viveu-se esse período mais humano e caloroso na Filarmónica, o que se reflectiu em 5 CDs. Do Fausto ao mito do Prometeu, as coisas mudaram. A liberdade de expressão, a imaginação, a magnificência técnica criaram um som luminoso, diferente do fascínio pelo obscuro, o contraponto e o negativo que eram marcas inesquecíveis de Von Karajan, talvez o mais fantástico director de orquestra do século XX.

Édipo em Flash Back

NUM FILME de Alexander Klug, um grande actor, entrevistado por um jornalista que lhe pergunta se, quando faz teatro, lhe custa morrer todas as noites em cena, responde: ”Mas quando vou para o teatro e entro no palco, não sei que vou morrer! ”Se não sabe o intérprete, por maioria de razão desconhece-o a personagem, que naturalmente ignora a sua sorte, tal como Édipo, que Sófocles pôs a investigar, desconhecendo ser investigador e culpado, cego e amparado pela sua filha Antígona, como já o representaram. Um Édipo em “flash-back”, capaz de falar de Sabra e Chatila, pelo texto de Jean Genet, essa força dos clássicos que aguenta tudo, até Édipo em “flash back”...

Os Filhos de Betty

“QUEREMOS viver, amar e construir uma sociedade justa e pacífica. Quero que os nossos filhos possam viver com alegria e em paz”. Estas palavras deram a volta ao mundo, tornando-se no lema, muito simples, duma mulher excepcional. Betty Williams, activista irlandesa e Nobel da Paz em 1976, fez da sua protecção à infância a sua razão de vida. Agora, em Itália, conseguiu os apoios e o agradecimento para construir a Cidade da Paz, destinada a acolher pequenos órfãos de guerra.

LIVROS

“Il Circo dell’ Arte”
Saggiatore (Génova)
216 págs., € 35

A história da atracção fatal pelo mundo do circo, de Picasso a Cattelan. Absolutamente a não perder!

sábado, 7 de março de 2009

CONFIDENCIAL - «24 Horas» de 7 Mar 09

Ostras e Kung Fu

DEIXEM-ME AQUI ESCREVER, pela primeira vez, na primeira pessoa, espero eu que também em medida de caixa com filete fino, como a notícia de Sarkozy fintar as escutas direccionais que andam por aí, conversando fechado no seu Citroen blindado, deixando os “body guards” à beira dum ataque de nervos, com medo dum “rocket”.
Hoje escrevo como se isto fosse um blog, porque mataram o Nino Vieira. Eu gostava do Nino Vieira. Gostei sempre dos fulanos do PAIGC, conversava com Amílcar Cabral sempre que este ia a Londres, tinha grandes conversas com o Gil, um “papel” que vivia em Estocolmo e vinha a Londres para recolhas de fundos, tinha longas charlas com um fula Kumbalá que andava sempre apavorado, com medo que lhe dessem carne de porco ou algum refrigerante com álcool sem ele saber, e divertia-me com um “mandinga” chamado Ansumane. Os tipos da Guiné Bissau são especiais.
O Nino era diferente, porque tal como conheci Luís Cabral num jipe Mitsubishi junto à fronteira, e ele me estendeu uma lata de cerveja gelada no mato, numa área libertada, também no mato conheci o Nino, ouvi as suas gargalhadas e lhe contei a lenda em que ele se tornara entre as nossas tropas que temiam os seus ataques.
Mas foi no Palácio Presidencial, que eu conhecera muito antes como Palácio do Governador, ainda quando era a casa do Shultz, que passei uma noite memorável com o Nino, a comermos ostras melhores do que as do Espada no tempo da guerra, a atirarmos as cascas para baldes de plástico que prendíamos entre as pernas e a ver “cassettes” de VHS com filmes de Kung Fu que ele adorava.
A sua morte entristeceu-me. Recordo uma única conversa que tivemos sobre a morte. Ambos a rirmos muito. Porque me mandara um Antonov buscar-me aos Bijagós. Curiosamente, em Portugal, nunca nos vimos. Um dia destes encontramo-nos por aí. Espero que no céu também haja ostras e filmes de Kung Fu. E que Amílcar Cabral e todos os outros já tenham feito as pazes consigo.(Joaquim Letria)

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A Europa espia lá de cima

A POLÍTICA EUROPEIA de Segurança e Defesa (PESD) avança a pequenos passos. A Europa já dispõe, em comum, pela primeira vez, meios até agora reservados a três dos seus Estados membros que dispunham de satélites-espiões. Antes de mais, a França, que explora o sistema Hélios, que fotografa o espaço. A França está associada neste programa a parceiros muito minoritários: a Espanha, a Itália, a Grécia e a Bélgica. Depois desta “sociedade”, temos a Alemanha e a Itália, cada um destes estados possuindo uma pequena constelação de satélites radares que permitem observar a terra de noite ou através das nuvens.Também em Torrejon, em Espanha, a Europa faz funcionar uma estação de recepção de imagens produzidas pelos três sistemas, reservadas às operações nas quais a Europa esteja envolvida. 25 analistas europeus em Torrejon observam as imagens das costas da Somália e o território do Tchad onde há forças da União europeia. É também nesta base que se produzem as ordens de compras de muitas observações de satélites comerciais com material de interesse para a segurança e defesa europeias.

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África corroída pela fome e pela doença


MUITOS AFRICANOS e observadores estrangeiros não querem crer no que os seus olhos vêem no Zimbabué, no Congo e no Ruanda, onde as pilhagens de gente esfomeada não cessam, por vezes com militares e membros das forças de segurança também a assaltarem lojas, casas e armazéns para poderem comer o que a falta de soldo impossibilita. A cólera, a raiva e doenças mais graves atacam toda uma população indefesa, como também em Angola, por quem as respectivas autoridades fazem muito pouco ou nada, apesar dos governantes não esconderem a riqueza em que vivem, no meio das populações mais carenciadas.
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Os judeus radicais

OS “JOVENS DAS COLINAS”, extremistas judeus que exercem toda a espécie de violência sobre jovens palestinos em Hebron, lutam também contra as forças de segurança israelitas para impedirem o desmantelamento das construções judaicas em território palestino e incendeiam casas e carros com o objectivo de provocarem uma nova intifada dos palestinos, de modo a ficarem com as mãos livres para intensificarem a colonização da Cisjordânia.O exército israelita já exprimiu a sua preocupação.

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Protecção de dados?!: AhAh,Ah!

OS EXTRACTOS BANCÁRIOS de 21 milhões de alemães ainda se podem encontrar à venda no mercado negro. Um CD completo custa 12 milhões de euros! A revista económica Wistschaftwoche revelou esta notícia que gelou a Alemanha e outros países europeus.Cada um de um milhão e 200 mil alemães estão referenciados pelo nome, endereço, número de conta, domicílio bancário e respectivas movimentações. A origem da pirataria é a dos Call Centers às quais grandes companhias e bancos alemães recorrem. Muitos funcionários destes centros arredondavam o seu rendimento fornecendo este tipo de informação. Recentemente, a Deutsche Telekom foi abalada por um caso de fugas de dados de assinantes, fornecendo telefones fixos e móveis a organizações fraudulentas. As autoridades pedem aos cidadãos que todos os dias vigiem cuidadosamente as suas contas.

LIVROS

“Lora”
Aníbal Garcia Arregui
Belaqvua,Bacelona,2008.
175Págs.,16 Euros.
A viagem iniciática dum protagonista que é estudante de antropologia e que vive relações carregadas de aprendizagens. Sem erotismo nem pornografia, no entanto mais aconselhável do que ver ou ouvir os programas dos “drs. Punhetas” que há por aí.